Passear entre novidades e clássicos em Viseu

Em terras de Viriato, as novas e rejuvenescidas moradas ligadas à arte, gastronomia e boas camas têm ajudado a dar novo fôlego à cidade-jardim. Juntam-se alguns clássicos à equação e está feito o convite para uma escapadela nesta princesa da Beira Alta.

Na cidade que é uma das princesas da Beira Alta, o amanhecer é digno de realeza. Os bons dias são dados pelas serras da Estrela e do Caramulo, que se avistam em redor do MONTEBELO PRÍNCIPE PERFEITO GARDEN HOTEL, o quatro estrelas que nasceu em Viseu há mais de duas décadas e que surge de cara lavada há dois anos, pelas mãos do grupo Visabeira. Afinal, estamos em terras de Viriato, com garra e sem medo de se renovar. Além da ampliação dos quartos – agora 47, incluindo duas suítes com sala -, também mudou a decoração, antes mais clássica e ligada à monarquia e agora contemporânea, focada na natureza e nos tons azuis e verdes.

Das varandas da maioria dos quartos, avista-se o jardim do Príncipe Perfeito e a nova piscina que surgiu este verão, com zona de espreguiçadeiras e uma tenda onde se fazem massagens. A sala comum com bilhar e zona de bar é ideal para momentos descontraídos, tal como a esplanada no jardim. Já a falta de restaurante é compensada com entrega de pratos quentes nos quartos, a qualquer hora. O golf e o footgolf são atividades que podem ser feitas nos hotéis-irmãos em Viseu, ou não se tratasse de um grupo com seis unidades em Portugal e outros tantos em Moçambique, com dois novos previstos a abrir no próximo ano, em Alcobaça e no Chiado.
O Montebelo Príncipe Perfeito Garden Hotel ganhou uma piscina exterior este ano. (Fotografias: Maria João Gala/GI)
Existem mais de 40 quartos e suítes neste quatro estrelas.
Carregado de novidades está a Casa da Calçada, já no centro histórico da cidade-jardim, a poucos metros da Sé e da Igreja da Misericórdia. Este edifício senhorial do século XVIII acaba de acolher o novo MUSEU KEIL AMARAL, uma ideia antiga que agora se concretiza, e que reúne parte do extenso espólio de cinco gerações da família Keil Amaral, com ligações a Viseu. Pelos três pisos, contam-se cerca de 300 peças de arte, a maioria da autoria da própria família, entre pinturas, desenhos, esculturas, azulejaria, cartazes de publicidade, decoração, maquetes de arquitetura e coleções pessoais variadas (dos camaféus aos leques, jóias e binóculos, por exemplo).

Passear por estas salas é conhecer a história desta família de talentos ecléticos, mas também do próprio país. Um dos exemplos mais óbvios é a sala da música, com instrumentos e a partitura do hino nacional, autoria de Alfredo Keil. Outro destaque é a sala das Belas Artes dedicada ao desenho de estátuas e formas corporais, onde qualquer visitante pode por mãos à obra e dar largas à imaginação numa tela em branco.
O Museu Keil Amaral abriu portas há poucos meses, no centro de Viseu.

Pelos pisos do museu encontram-se centenas de peças de arte da autoria e espólio da família Keil Amaral.

Mesas novas e clássicas

Ainda hoje se notam os resquícios da igreja em pedra que aqui funcionou noutros tempos, mas a missa agora é outra. E bem saborosa. O PORTA 64 surgiu há três anos como bar mas impôs-se recentemente como restaurante, mais focado na cozinha tradicional local. À frente do espaço, situado no coração do centro histórico, está Paulo Correia, viseense de gema e filho de um pasteleiro. Essa herança do pai mantém-se viva, sendo ele o responsável por sobremesas como o semifrio de requeijão com doce de abóbora, entre outras.

Ao almoço e jantar, entre paredes ou na esplanada em deck, chegam os pratos típicos da zona, pelas mãos da Dona Conceição, ou a “avozinha de toda a equipa”. “Tem 62 anos mas mais energia que todos nós”, ri-se o dono. À mesa chegam doses generosas de arroz de costeletinhas em vinha de alhos, bem soltinho; a broa recheada com bacalhau lascado, grelos, pimentos e batata; a perna de porco à Lafões ou a posta de vitelinha à lavrador, com arroz de feijão saloio. Para breve haverá mais novidades, como um futuro jardim vertical na fachada e planos para ampliar a casa ao restante edifício.

O restaurante Porta 64 é uma das novidades da cidade.

A cozinha tradicional viseense e beirã é um dos focos desta casa.

O interior do restaurante, onde em tempos funcionou uma igreja.
A dez minutos de carro daqui, está um dos grandes clássicos da zona. Não é por acaso que têm portas abertas há quase vinte anos, sempre com casa composta. No amplo FORNO DA MIMI, a tradição beirã e portuguesa chega à mesa em travessas de barro e em doses bem servidas, pelas mãos do chef Licínio Marques, que aposta no forno a lenha e nas panelas de ferro para conquistar quem aqui se senta. Há pratos obrigatórios que estão na carta há duas décadas, como é o caso da vitela da região assada em vinho do Dão, com batata e esparregado; da lageirada de bacalhau em cama de broa; e do cabrito assado da Serra do Caramulo, aos domingos.

Imperdíveis são ainda as mini pataniscas de bacalhau, as feijocas guisadas e as tábuas com os enchidos da zona. A preocupação com o produto endógeno aliou-se, já este ano, a uma maior qualidade dos frescos, que agora vêm diretamente das hortas biológicas desta casa. O resultado saboreia-se entre paredes que mostram utensílios e ferramentas de trabalho agrícola, florestal e vinícola, das charruas às serras. “Isto é quase um espólio da ruralidade”, frisa Carlos Mões, gerente do restaurante, que desde o ano passado tem um segundo espaço, o Jardins da Mimi, aberto durante os verões, situado nas traseiras.
Ao longo de duas décadas, o Forno da Mimi tornou-se num dos restaurantes clássicos de Viseu.

Feijocas, enchidos locais e mini pataniscas de bacalhau fazem parte dos petiscos da casa.

O forno a lenha é um dos principais motores do restaurante, como acontece com este bacalhau.
Caminhada na natureza

O Monte de Santa Luzia, às portas da cidade, é o cenário que acompanha a ROTA DO QUARTZO, o trilho pedestre e circular de seis quilómetros onde cabem caminhadas junto a arvoredo, uma capela em pedra, zonas de merendas à sombra, fontes, dois baloiços panorâmicos e múltiplas vistas panorâmicas sobre Viseu e as serras em redor. O ponto inicial é junto ao Museu do Quartzo, mineral em tempos explorado neste monte.
Um dos baloiços que se encontram na Rota do Quartzo.
Das vinhas aos queijos locais

Está situada a dois passos do pequeno Jardim das Mães, no centro viseense, mas são duas irmãs que dão palco aos produtos regionais desta mercearia. Na QUE VISO EU?, aberta há cinco anos, Inês e Cristina Pessanha mostram o que de melhor produzem na quinta e queijaria da família, situada em Povolide, aldeia nos arredores de Viseu, nos limites da zona demarcada como Queijo da Serra. Aqui, vende-se queijo de cabra e ovelha com curas entre os 40 dias e um ano, e pode aprender-se a fazê-lo em experiências na própria Quinta da Igreja.

É de lá que chegam também os frescos das suas hortas orgânicas, casos da batata, abóbora e manjericão. São as irmãs que fazem também os biscoitos torrados de requeijão, com receita familiar, e o pão de trigo barbela. A estes juntam-se os chocolates da Feitoria do Cacao, de Aveiro, amêndoas confitadas que chegam de Castelo Rodrigo, aguardente de medronho viseense e vinhos da zona Centro.
As irmãs Pessanha vendem os seus queijos no centro de Viseu.
A mercearia Que Viso Eu? abriu há cinco anos.
E por falar no cálice de Baco, é impossível não visitar a mais antiga região demarcada de vinhos não licorosos em Portugal. Felizmente, o SOLAR DOS VINHOS DO DÃO, um paço episcopal do século XII recuperado pela autarquia e pela Comissão Vitivinícola Regional do Dão, facilita a tarefa, sugerindo roteiros e pontos de paragem pelos 46 produtores e quintas da Rota dos Vinhos Dão, onde se podem conhecer melhor as castas e o terroir, e marcar provas de vinho, visitas às vinhas e refeições.

Antes disso, no Welcome Center do solar há uma garrafeira com mais de duas centenas de referências, para comprar e levar para casa, mas também se podem fazer provas vínicas no local, com sugestões que rodam quinzenalmente. O edifício acolhe ainda exposições ao longo do ano e expõe parte do espólio de vinhos antigos da comissão, alguns a remontar a 1964. É aqui que está a garrafa autografada por Amália Rodrigues, aquando da sua atuação na Feira de São Mateus de 1975. Uma relíquia. “Quem me trata como água, é ofensa, pago-a”, já cantava a fadista.
No Solar dos Vinhos do Dão fazem-se provas vínicas e aconselham-se rotas e quintas para conhecer em redor.
No Solar dos Vinhos do Dão fazem-se provas vínicas e aconselham-se rotas e quintas para conhecer em redor.
No Solar dos Vinhos do Dão fazem-se provas vínicas e aconselham-se rotas e quintas para conhecer em redor.
Fonte: https://www.evasoes.pt/roteiros/passear-entre-novidades-e-classicos-em-viseu/1023850/?fbclid=IwAR1-sCww61K24Q7qaijHN82UWSG3F-EbGAzhC7IYmyoRd1tRH0PfPzl3Aqg