DÃO-LAFÕES, UMA VIDA EM EQUILÍBRIO COM A NATUREZA

Uma rota com nome de pastel que pretende dinamizar o turismo em Vouzela, os encantos senhoriais da Casa da Ínsua e o grande espírito comunitário dos habitantes de Sangemil.

Toda a gente conhece Viseu, a capital da Beira Alta e a cidade que viu nascer Viriato para o Mundo. Faz parte de uma região com muitas tradições, onde é visível a marca do Homem desde a pré-história até aos tempos actuais e o contacto com a natureza é algo que faz parte da rotina do dia-a-dia de cada povoação. A Beira Alta abrange tanta gente e uma complexidade de actividades tremenda que foi dividida em duas sub-regiões: a das Beiras e Serra da Estrela e de Viseu Dão-Lafões.

Foi a sub-região de Viseu Dão-Lafões que tive o prazer de visitar com outros bloggers de viagem, entre os quais a Marta do Boleias da Marta, a Sónia do Lovely Lisbonner, o Jorge do Hit the Road, a Ana do Viajar porque sim e o Samuel do Dobrar Fronteiras. Esta foi uma acção concertada entre a ABVP com a Comunidade Intermunicipal Viseu Dão-Lafões (CIMVDL) e o Turismo do Centro de Portugal para promovermos o que de melhor se faz no centro do país.

Além dos vinhos e da Ecopista do Dão ou as termas de São Pedro do Sul, pouco mais conhecia do distrito de Viseu. São 14 os municípios que contemplam esta região e num fim-de-semana é muito difícil olhar para toda a oferta à disposição, diria até impossível… Só que a variedade é tanta que conseguimos fazer sempre algo diferente!

Para começar o fim-de-semana, jantamos e pernoitamos em São Pedro do Sul, mesmo em frente das conceituadas termas desta pacata vila, no Grande Hotel Thermas. Na segunda noite ficamos no Avenida Boutique Hotel, um dos mais conceituados alojamentos no centro de Viseu. Estes são só dois bons exemplos (diria até de requinte) de alojamentos para ter em conta nesta região!

 

 

A Rota do Pastel de Vouzela
Durante estes dias, houve muitos lugares que (por ignorância minha) nunca tinha ouvido falar mas dos quais fiquei encantado à primeira vista. Nesta lista está claramente incluído a vila de Vouzela! No seu centro histórico destacam-se as suas casas brasonadas e a vistosa ponte da antiga linha do Vouga que trocou o comboio pelo acesso pedonal na qual temos uma vista muito bonita desta vila. Também visitamos a Igreja Matriz e a Capela de São Frei Gil mas o que me chamou mais à atenção foi a Casa das Ameias.

Em plena Praça da República no centro da vila, a Casa das Ameias é um alojamento bem charmoso do séc. XVIII que foi todo remodelado no interior, mantendo a sua génese através da fachada de pedra e com o formato original dos vãos exteriores. Eu sou um pouco suspeito porque adoro arquitectura contemporânea mas a verdade é que esta casa apresenta pormenores incríveis que combinam muito bem as tradições com um lado mais moderno.

Por outro lado, nem só de alojamento local vive esta casa… O seu impacto tem sido muito importante para dinamizar o turismo da vila, ainda que para isso tenha também contribuído o famoso Pastel de Vouzela. Nas suas imediações é-nos apresentado a história da D. Maria da Conceição Figueiredo que popularizou este doce, umas das melhores iguarias que provei nos últimos tempos! Para eternizar esta tradição, foi ainda criada a Rota do Pastel de Vouzela para promover tanto a vila como este doce da casa. Pelo caminho, se passares pela Casa da Castanheira, podes levar contigo alguns pastéis para casa! Por fim, terminamos a manhã no topo da Torre Medieval de Vilharigues de onde temos um visão completa de Vouzela e das povoações em redor!

Pelos encantos da Casa da Ínsua
Depois de uma manhã muito bem passada e um almoço ainda mais reconfortante em Viseu, seguimos até Penalva do Castelo. Em primeiro lugar andámos um pouco pela vila, começando no largo em frente à Igreja da Misericórdia de Ínsua, passando pelo Mural dos Produtos Endógenos e Tradições do Concelho e só terminamos na jóia do município: a Casa da Ínsua. O mais engraçado deste palácio é o facto de estar relacionado com um antepassado ligado à minha família que é daquela região, mais concretamente falo de Luís Albuquerque, um dos maiores responsáveis pela realização deste empreendimento no séc. XVIII. Mas isto é só uma curiosidade…

Entretanto, esta casa funciona como museu, alojamento, restaurante, realização de eventos e ainda se produzem vários produtos endógenos como os vinhos do Dão e os queijos da Serra da Estrela. Os queijos são da Serra da Estrela devido ao leite de ovelha bordaleira que pertence aquela região e juntamente com o cardo define as qualidades e sabor do queijo.

Enquanto estivemos nesta quinta, houve toda uma explicação de como era desenvolvido o processo à volta do vinho e do queijo, visitamos o museu com a história da família Albuquerque, demos uma volta pelos salões da sala e passamos pela capela, algo que qualquer pessoa pode fazer ao chegar aqui. Não nos despedimos sem antes dar uma volta pelos jardins invejáveis que envolvem este casarão.

O Forno Comunitário de Sangemil
Terminamos o dia nesta pequena povoação de Sangemil, mais um dos lugares que desconhecia por completo. Aqui passamos um dos melhores momentos do fim-de-semana, sobretudo pela oportunidade de poder falar com algumas voluntárias do Forno Comunitário da aldeia.

Cada vez mais gosto deste tipo de aproximação aos locais, podendo falar com eles sobre as suas tradições e costumes. Aqui não foi excepção e juntamente com a D. Cilita, Arlete e Maria Cristina (estava em falta a D. Natividade) pudemos perceber melhor como funciona este espaço. Sendo um lugar comunitário, qualquer habitante da aldeia pode usufruir das instalações. Estas senhoras de uma forma voluntária, poderiam usar o espaço para proveito próprio mas acabam por ter um grande papel nesta comunidade… Apesar de terem um trabalho das 9h às 17h como qualquer cidadão comum, conseguem arranjar sempre um tempo para fazer pão que é entregue posteriormente aos bombeiros, a instituições de caridade e a outros mais desfavorecidos. São uma inspiração para as suas gentes e para nós! No fim desta agradável conversa, saímos de lá com um pão e só tive pena de não termos estado lá mais tempo.

Este forno comunitário resulta de um projecto da junta de freguesia de Ínsua com o objectivo de recuperar o fabrico artesanal do pão daquela terra. Além disso, inclui um museu e é possível assistir ao processo de produção do pão mediante uma marcação prévia.

Museu do Quartzo
Ao segundo dia pelas terras do Dão, acordamos com uma manhã não muito simpática e algo chuvosa. Eramos para ter feito o percurso da Rota do Quartzo que termina no Museu do Quartzo mas acabamos apenas por visitar o museu. Localizado no Monte de Santa Luzia, num antigo local de extracção do quartzo, é o primeiro museu do mundo a dedicar-se exclusivamente a um mineral e pretende ser um espaço interativo de exploração do património geológico e natural da região. Ao lado do museu encontra-se um lago que é bem fotogénico e uma colina com vista para o museu e a cidade de Viseu (que com bom tempo daria para se ver).

Uma pausa para café em Viseu
Voltamos a Viseu para uma pequena pausa antes de irmos até Tondela onde nos esperavam para almoçar. A cidade-jardim como é conhecida, é um lugar cheio de história em que uma simples manhã é (muito) pouco para absorvermos a boa onda de cultura que transparece nesta cidade.

Logo depois de uma paragem rápida na Praça D. Duarte, umas das mais bonitas do centro histórico, seguimos em direcção ao largo onde se encontram a Sé de Viseu e a Igreja da Misericórdia. Continuando pelas ruas do centro, chegamos novamente ao Jardim Tomás Ribeiro. A ideia com que fiquei é que Viseu tem muito que se lhe diga! São muitos os espaços verdes para disfrutar e muitas as ruas antigas no centro histórico para dar ao pé. Um fim-de-semana até pode nem dar para conhecer a cidade toda.

Um cheirinho da Ecopista do Dão
Mais um almoço carregado só que desta vez tivemos mesmo de levar as sobras numa caixinha. Felizmente, estava planeado fazermos um troço da Ecopista do Dão para conseguirmos fazer a digestão em condições. Desde o Treixedo seguimos até Santa Comba Dão pelo trilho azul.

A ecopista tem uma extensão de 49 km e passa por três concelhos, sendo que cada um desses municípios está marcado com uma cor. Por exemplo, o azul onde nós estávamos, pertence ao caminho que está inserido no concelho de Santa Comba Dão. De bicicleta ou a pé, este percurso que liga Viseu a Santa Comba Dão é o maior da Península Ibérica e vai ficar ainda mais extenso depois do projecto que está a ser desenvolvido para ligar o caminho até Vouzela de um lado e até à Figueira da Foz pelo outro. Cheira-me que isto promete!

Aqui a gastronomia não desilude
À semelhança do que aconteceu com a minha viagem a Bragança, também não nos faltou comida à mesa. Creio que a quantidade não foi tanta como em Trás-os-Montes mas a qualidade das nossas refeições foi igualmente incrível.

À chegada a São Pedro do Sul, sentamo-nos à mesa na Adega do Ti Joaquim onde fomos recebidos com alguns enchidos típicos da região e umas travessas de vitela e cabrito assado que eram de chorar por mais! Ao segundo dia, fizemos as refeições por Viseu, começando ao almoço pela Casa Arouquesa com os seus famosos pratos de carne muito aclamados na região e à noite disfrutamos dos petiscos do Palace Viseu, a melhor coisa que nos aconteceu nesta viagem para equilibrarmos com as comidas pesadas que tinhamos aproveitado até então… A última refeição foi em Tondela, no restaurante Três Pipos e aqui tivemos direito a dois pratos diferentes que nos encheram a barriga e de que maneira!

E isto para dizer o quê? Que onde quer que vamos, seja no Norte ou Sul, no campo, na cidade ou na praia, em Portugal somos sempre recebidos com boa comida!

A viagem chegou ao fim e sinto que podia estar ali um mês que ia estar sempre ocupado… A diversidade cultural é mesmo enorme! Das aldeias mais pitorescas, aos percursos naturais e a uma natureza sem igual que abrange cada uma daqueles 14 municípios. Foi de uma forma muito tranquila que aproveitamos toda uma região que deve ser vivida com a maior calma do mundo e este roteiro até se podia dividir em três, quatro ou mais planos diferentes. Resta-me agradecer à Cátia, ao Luís e à Cristina pela companhia deste fim-de-semana e por nos terem levado a tantos lugares extraordinários!

Fonte: https://numpostal.com/dao-lafoes-uma-vida-em-equilibrio-com-a-natureza/?fbclid=IwAR0qfCNys9hi9dwkmnoE8ROw0fm6Hh9KRSYBSQXEkY2BKXnJndMAtgzTreY