Coisas boas (e alguns segredos) de Viseu Dão Lafões – parte II

Aqui há tempos falei sobre o fim-de-semana mais recente que passei na região de Viseu Dão Lafões. Muito ficou no entanto por dizer, por isso hoje vou corrigir essa falha e revelar mais algumas das coisas boas que encontramos nesta região do centro de Portugal.

As jóias discretas de Penalva do Castelo

Sob uma capa de placidez e de lugar “onde não se passa nada”, Penalva do Castelo guarda alguns dos melhores segredos do planalto beirão. A vila recebeu-nos sob o sol forte do princípio da tarde, luminosa e arejada na esplanada ampla que rodeia o moderno edifício da Câmara Municipal. A poucas centenas de metros de distância, a Igreja da Misericórdia foi o primeiro ponto para uma paragem mais demorada. Por fora parece apenas mais uma igreja barroca, paredes brancas debruadas a cantaria, as duas torres gémeas com varandins e pináculos coroados com o habitual catavento. Por dentro, ao contrário do que seria de esperar, o barroco desaparece para dar lugar a um ambiente neoclássico, altar-mor e retábulos em que o dourado quase se submete ao bege, uma lindíssima porta interior nos mesmos tons, na parede um púlpito e um órgão de tubos, e uma faixa de azulejos azuis e brancos em toda a volta. Não é muito comum encontrar este tipo de ambiente, tão harmonioso e pouco pesado, nos edifícios religiosos portugueses mais antigos, razão pela qual gostei particularmente de visitar esta igreja.

Parece ser imagem de marca da vila “casar” a tradição com a modernidade, sem que o contraste criado seja aberrante. Um dos orgulhos do município de Penalva do Castelo são os seus produtos endógenos: o vinho Dão (sub-região Castendo); o queijo Serra da Estrela DOP, que é exclusivamente feito com leite de ovelhas das raças Bordaleira da Serra da Estrela ou Churra Mondegueira; e a maçã Bravo de Esmolfe, uma maçã outonal pequena, doce e com um aroma maravilhoso, produzida numa área geográfica bastante limitada. Para homenagear estes produtos típicos foi escolhida uma forma de expressão artística bem actual: a street art. Perto do jardim da Praça do Município e do recinto da feira, o “Mural dos Produtos Endógenos e Tradições do Concelho” celebra os costumes e os produtos agrícolas mais característicos da região. O mural foi concebido por Jaf Graph, um jovem artista já com créditos firmados no panorama português da arte urbana e também um “filho” da região Viseu Dão Lafões (nasceu e vive em Mangualde), e mostra bem como a flexibilidade da linguagem artística moderna consegue tratar com elegância até mesmo os temas mais clássicos.

Mas a jóia maior da coroa de Penalva do Castelo ainda não se tinha mostrado, bem escondida que está atrás de muros de pedra, trepadeiras folhosas e árvores enormes: dá pelo nome de Casa da Ínsua e é ao mesmo tempo hotel, quinta e museu.

Foi a surpresa maior desta viagem. Até à altura, Casa da Ínsua era para mim apenas um nome de vinho vagamente conhecido. Daí o meu espanto quando, depois de percorrer uma alameda refrescada pela sombra de muitas árvores e passar um pórtico em arco, surgiu à minha frente um belo palacete barroco, em alvenaria branca debruada a granito e com uma capela anexa. Foi o início de uma viagem espácio-temporal guiada pelo actual gerente da Casa da Ínsua, Rafael Furão, que nos contou toda a história da casa e da quinta em que ela está inserida.

A casa que hoje vemos foi construída no último quarto do séc. XVIII a mando de Luís de Albuquerque e Mello Pereira e Cáceres, um fidalgo cavaleiro da Casa Real que foi o quarto governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, no Brasil. No local existiam já uma casa antiga (dos sécs. XVI-XVII), da qual apenas foi preservado o terraço, e a capela, que sofreu posteriores modificações. Supõe-se que o arquitecto do projecto da casa terá sido José Francisco de Paiva, e as obras de que foi posteriormente alvo no séc. XIX foram confiadas ao arquitecto italiano Nicola Bigaglia (que desenhou o chafariz do pátio principal).
Uma grande parte da casa está ocupada pelas instalações do hotel, que actualmente tem o nome de Parador Casa da Ínsua (faz parte da rede espanhola de Paradores de Turismo). As restantes divisões fazem parte do Núcleo Museológico e são um acervo riquíssimo de obras de arte, mobiliário, objectos decorativos e elementos arquitectónicos dos séculos passados. Notáveis são sobretudo os tectos, em madeira ou em gesso a imitá-la, com pinturas em trompe-l’oeil, brasões ou motivos clássicos. Há uma Sala Chinesa muito original, onde pontifica um samurai mecânico e as paredes e o tecto estão forrados com um maravilhoso papel pintado. No Salão Nobre, o piso é um magnífico embutido feito com 14 qualidades de madeira diversas, e sobre a lareira há um relógio finamente trabalhado, que em tempos idos fazia soar uma melodia diferente para cada segmento do dia. O percurso da visita levou-nos também às cozinhas, uma branca, mais modernizada e já com utensílios e funcionalidades relativamente “recentes” (sendo que recentes significa um século, mais coisa menos coisa), e outra preta, com uma grua para panelas e uma ampla chaminé.
A caminho da capela, chama a atenção o engenhoso sistema de pesos que controla o funcionamento da torre sineira e a sua ligação ao relógio. Aliás, a própria torre é extremamente original, com quatro sinos de tamanhos diferentes sobrepostos e um outro (o sino inicial e único na altura da construção da capela) colocado mais acima. Consagrada a Nossa Senhora da Conceição, o interior da capela tem uma cúpula pintada, que lhe dá uma atmosfera de monumentalidade, e todas as paredes estão cobertas de azulejos, pinturas e quadros.
Do interior saímos para os jardins – plural, porque são vários e de géneros diferentes. Há o francês, com os seus parterre geométricos e um lago com flores de lótus indianas, que só vivem 48 horas e tivemos a sorte (e felicidade!) de ver em flor. Há o inglês, mais selvagem, com muitos arbustos e árvores de grande porte – sequóias, cedros, paus-brasil. Há o dos aromas, com flores e um canteiro onde estão plantadas videiras das castas usadas para os vinhos Casa da Ínsua. Há um tanque com patos e um cisne, fontes, mesas e esculturas em pedra. E há um sem-fim de preciosidades espalhadas pelos 40 hectares da quinta, que uma visita de poucas horas não consegue abarcar.
Além do vinho, da quinta que rodeia a Casa da Ínsua saem também os outros produtos típicos do concelho de Penalva do Castelo: o queijo Serra da Estrela e a maçã Bravo de Esmolfe. O cardo usado na cura do queijo aqui produzido é igualmente cultivado nos terrenos da quinta, que incluem ainda uma horta onde crescem frutos e legumes variados, base de algumas das compotas que são vendidas ao público. Em tempos trabalhavam aqui mais de mil pessoas e a quinta era praticamente auto-suficiente. Havia uma fábrica de gelo, uma moagem e um lagar de azeite – aliás, o azeite continua a fazer parte da produção própria da quinta. Lado-a-lado com a adega vinícola e a queijaria, as unidades produtivas entretanto desactivadas estão agora inseridas no Núcleo Museológico. Vemos máquinas arcaicas com finalidades desconhecidas (que o Rafael nos explicou prontamente), uma sala com mapas seculares e gravuras antigas representando a fauna e flora tropicais, outras com obras de arte, artefactos e objectos que pertenceram a Luís de Albuquerque e aos seus descendentes, e que ilustram ao mesmo tempo o percurso familiar dos proprietários da quinta e as mudanças sociais e tecnológicas ao longo de três séculos. Vemos os queijos alinhados nas prateleiras, à espera de estarem no ponto certo para irem para a mesa de quem os comprar (a cura demora de 2 a 4 meses), e as misturas de flor do cardo usadas para os curar. Vemos as cubas de aço brilhante e os tonéis de madeira onde as uvas fermentam e o vinho envelhece, e sentimos o cérebro invadido pelo odor forte que é tão típico das adegas. Visitar a Casa da Ínsua e a sua quinta é uma lição de História e um prazer para todos os sentidos, e confesso que me apetecia ter lá ficado mais tempo.

Outro prazer esperava por mim, mais uma jóia de Penalva do Castelo, esta escondida na pequena aldeia de Sangemil: o forno comunitário. E aqui tenho de fazer duas notas prévias. A primeira é que a tarde ia avançada, e apesar de o almoço ter sido excelente (falarei dele mais adiante), o estômago já reclamava por qualquer coisita que o acalmasse. A segunda é que sou doida por pão, de preferência regional, e melhor ainda se for bem fresco. Podem por isso imaginar o que terá sido entrar num sítio onde não só cheirava a pão acabadinho de fazer, como também tinha mais de uma dúzia de belíssimos pães com um aspecto delicioso (mal cozidos, mesmo como eu gosto) em cima de uma mesa, a pedirem para os devorarmos logo ali. Foi ao mesmo tempo uma alegria e uma tortura, porque tive de me dominar para não os atacar imediatamente, feita selvagem

As fadas que produzem estas maravilhas (em Portugal faz-se o melhor pão do mundo!) chamam-se Cilita, Arlete, Maria Cristina e Natividade, mas só as três primeiras é que estavam à nossa espera, acompanhadas pelo vice-presidente da Câmara, José Laires. Fadas que põem todo o seu saber e afecto no pão que sai das suas mãos, e que ainda por cima aturaram com a melhor das disposições as nossas perguntas e pedidos de pose para a fotografia.
No piso superior da casa onde está alojado o forno comunitário de Sangemil há uma pequena exposição etnográfica que tem como leitmotiv o ciclo do pão. E quando voltámos a descer à sala do forno, cada um de nós foi presenteado com um dos belos pães de trigo que tínhamos estado a admirar, ainda quentinhos dentro do seu saco de papel. Vergonhosamente, o meu já não estava intacto na altura em que cheguei ao autocarro – não resisti e arranquei logo um bocado, que comi enquanto o diabo esfregou um olho, sem manteiga, sem doce, sem nada, e me soube pela vida. Há coisas que podem ser muito simples, mas não há dinheiro que as pague…

A visita a Penalva do Castelo ainda teve mais uma paragem, no sítio a que chamam Lages de Sangemil. Numa zona de antigas eiras, onde os aldeãos secavam e tratavam os cereais que cultivavam, um grupo de “palheiras” tem vindo a pouco e pouco a ser recuperado por um casal, e transformado em casinhas para alojamento temporário. O local onde estão situadas é excepcional, com uma vista ampla sobre o vale e as encostas do Dão, onde as vinhas crescem em socalcos ondulantes e o arvoredo se estende sobre a crista dos montes. As casas estão recuperadas de forma admirável (algumas estavam completamente em ruínas), e por todo o lado há pormenores que alegram o ambiente, engraçados e dispostos com bom gosto. Ao sol do final da tarde, com o verde matizando-se de dourado e naquele ambiente de sossego, pareceu-me sem dúvida um lugar ideal para aquelas alturas em que precisamos de desligar do mundo e relaxar.

Viseu, flores e sabores

Doze. Para quem vem de carro dos lados de Lisboa, são doze as rotundas que encontra no caminho, depois de sair do IP3 e até chegar ao centro de Viseu (ou um número ainda maior, se o destino for outro que não o centro, como foi o meu caso). Mas se ter de contornar tantas rotundas num curto espaço de oito quilómetros causa alguma estranheza, são elas que primeiro nos fazem perceber a razão pela qual Viseu continua a fazer jus ao título de “cidade-jardim”, ostentado desde 1935 – quando as rotundas, por sinal, ainda nem existiam. Todas elas estão paisagisticamente arranjadas com relva e canteiros de flores, arbustos ou pequenas árvores, eventualmente uma escultura, pedras ou até mesmo uma fonte. Em Viseu, parques e jardins são mais que muitos, e mesmo nas ruas a proporção de flores por metro quadrado é admirável.
O coração da cidade é disso o maior exemplo. Na Praça da República, mais conhecida por Rossio, o edifício da Câmara Municipal perde protagonismo para o Jardim Tomás Ribeiro, que é quase um prolongamento do centenário Parque Aquilino Ribeiro, um dos maiores de Viseu. O jardim homenageia o escritor e político, que nasceu em 1831 em Parada de Gonta, numa glorieta decorada com azulejos pintados pelo seu próprio genro, Jorge Colaço. Há uma fonte com repuxos, quiosques e esplanada, árvores frondosas e muitos bancos para descansar. Um dos vértices aponta para o edifício do Tribunal, e ao lado dele está o Avenida Boutique Hotel, onde dormimos na segunda noite da nossa estadia em terras viseenses. Aberto em inícios do séc. XX com o nome de Grand Hotel Avenida, foi remodelado há poucos anos. Mantendo a traça exterior, o interior foi modernizado sem grandes arroubos imaginativos, com quartos simples mas confortáveis e com excelente casa de banho.
Do outro lado da Praça, o painel de azulejos criado em 1931 pelo pintor portuense Joaquim Lopes guia-nos até ao pequeno Jardim das Mães, e ao lado da Pensão Rossio Parque há uma reinterpretação gigante, pintada pelo artista urbano Ricardo Romero, do quadro “Menina das Camélias” de José Almeida e Silva – uma obra que faz parte do acervo do Museu Grão Vasco.
O Museu Nacional Grão Vasco possui uma riquíssima colecção de pintura, escultura, cerâmica, mobiliário e objectos decorativos, e até mesmo de arqueologia. Está alojado no Paço dos Três Escalões, um edifício de pedra com aspecto robusto que fica na Praça do Adro, paredes-meias com a Sé, o monumento mais icónico de Viseu. A Sé Catedral de Viseu tem uma história velha de séculos, anterior à da fundação de Portugal, e foram muitas as obras e modificações de que foi alvo durante a sua longa existência, tanto exterior como interiormente. As suas duas torres, paralelepípedos maciços de granito escurecido pelo tempo e só tenuemente aligeiradas pelos elementos decorativos colocados no topo, contrastam com o retábulo da fachada, em pedra mais clara e com um aspecto muito mais leve. Seis nichos escavados estão ocupados por outras tantas esculturas, a mais central representando São Teotónio, o padroeiro.
No centro da Praça do Adro está um cruzeiro do séc. XVII, e do lado oposto à Catedral, como que a querer competir com ela pelas atenções, a Igreja da Misericórdia, exuberantemente barroca no exterior e neoclássica no interior, e cujo edifício também abriga um Museu.
O passeio pelo centro histórico de Viseu foi curto, mas ainda assim suficiente para poder apreciar as casas com vários pisos, com janelas altas para deixarem passar o máximo de luz possível, debruadas a cantaria, e varandas com belos ferros forjados. Junto à Porta do Soar, o arco onde existiu uma das principais portas de entrada da cidade medieval, uma inscrição em pedra fez-me parar: “ESTA CAPELLA HE DO POVO QUE SE FEZ A CUSTA DAS ESMOLAS DOS DEVOTOS ANNO DE 1742”. Dedicada à Senhora dos Remédios e com uma invulgar forma exterior octogonal, o interior desta pequena capela é surpreendentemente bonito, sobretudo pelo forte conjunto cromático à base de azul e encarnado, pelos azulejos que cobrem as paredes até meia altura, e pelo colorido retábulo do altar.
Foi em Viseu que fizemos as refeições do segundo dia do nosso fim-de-semana, e os restaurantes escolhidos foram uma excelente amostra da diversidade gastronómica que a cidade põe à nossa disposição. Na Casa Arouquesa – o nome já diz tudo – a estrela foi a carne desta raça bovina, confeccionada nas duas formas diferentes que são as especialidades deste restaurante: o bife à casa e a vitela assada no forno. Altamente recomendável para os amantes irredutíveis da carne de vaca. Nas entradas, o presunto (mal curado e delicioso) fez sucesso; e à sobremesa, como fiquei indecisa entre o cheesecake de frutos vermelhos e o pudim de coco, provei os dois.
O jantar foi completamente diferente. Na esplanada ao ar livre do Palace, a poucas centenas de metros do Rossio, vieram para a mesa petiscos atrás de petiscos, cada um melhor que o outro. Só para abrir o apetite, deixo aqui os nomes de alguns dos que provámos: peixinhos da horta (super estaladiços); croquetes de alheira com molho de mostarda; salada de pêra, rúcula e queijo da ilha; chocos panados com molho de iogurte e lima; gambas crocantes e geleia picante de citrinos; coscorões de peixe branco, malagueta e lima. Tudo regado com uma maravilhosa sangria de frutos vermelhos. Quanto às sobremesas, o destaque vai para a originalidade do cheesecake, que é servido num vasinho de barro, com um pé de alecrim espetado – como se se tratasse de uma planta envasada verdadeira.
Ainda no capítulo dos sabores, fica aqui mais uma recomendação: os chocolates artesanais da Chocolateria Delícia, situada ao pé do Rossio. Entre os vários mimos com que a Câmara de Viseu nos brindou estava uma caixinha com alguns dos bombons de autor que esta casa produz, e que têm nomes tão sugestivos como “coulis de manga”, “ganache de noz”, “bombom de flor de sal e alecrim” (sou louca por chocolate com sal…), “trufa de cacau” ou “bombom de vinho rosé”, entre outros igualmente apetitosos. No que toca a estes chocolates, “Delícia” não é um exagero.
De Viseu ficou ainda muito por ver. Entre os locais icónicos que tenho em mira para uma próxima visita estão a Cava de Viriato – uma misteriosa “fortaleza” com um perímetro octogonal de taludes de terra batida, que se supôs ter sido erguida na época da ocupação romana mas investigações recentes parecem indicar ser muçulmana – e o Parque do Fontelo, que tem 10 hectares de mata e jardins para explorar. Neste link do website Visit Viseu há propostas muito interessantes de roteiros para conhecer a cidade e os arredores.

Ecopista do Dão, 49 km para descontrair

Entre 1982 e 2012, Portugal perdeu 1075 km de ferrovias (segundo o Pordata), e Viseu foi uma das cidades mais afectadas por esta redução: é actualmente uma das três capitais de distrito portuguesas às quais não é possível chegar de comboio (as outras são Bragança e Vila Real). Em 1988, dois anos antes do encerramento do ramal da linha do Vouga que passava em Vouzela, a linha do Dão tinha igualmente sido desactivada. Ligava Viseu a Santa Comba Dão, atravessando também o concelho de Tondela, e tinha um comprimento total de 49,3 km. Após muitos anos de abandono e com um percurso sem grandes desníveis, que atravessa ambientes diversos e acompanha em grande parte os rios Dinha e Dão, reunia as condições ideais para ser transformada em equipamento turístico e de lazer: a Ecopista do Dão foi oficialmente inaugurada no início de Julho de 2011.

Depois de uma manhã de domingo inesperadamente chuvosa, que apenas nos deixou visitar o Museu do Quartzo e fazer um curto passeio até à vizinha Capela de Santa Luzia, e de um almoço no Restaurante 3 Pipos, em Tondela – que incluiu uma variedade obscena de entradas, filetes de polvo, tiborna de bacalhau, entrecosto assado e uma quantidade igualmente imoral de sobremesas – era imperativo que fôssemos esticar as pernas e gastar algumas das muitas calorias ingeridas durante todo o fim-de-semana. Apesar das nuvens, o calor tinha regressado, e a Ecopista do Dão foi o destino ideal.
Entrámos junto à antiga Estação de Treixedo, cujo edifício está infelizmente em ruínas. Ao longo da Ecopista há algumas (poucas) estações que foram reconvertidas em café/restaurante, mas não é o caso desta. Daqui até Santa Comba Dão são apenas 5,5 km, e este é um dos troços mais bonitos do percurso, sempre à beira do Dão até chegarmos à ponte metálica do Granjal, que atravessa o rio. Ouvem-se pássaros no meio do arvoredo, e a tranquilidade só é quebrada pelos ciclistas apressados que pedalam freneticamente pela Ecopista, por vezes em grupos, e certamente com muita pressa de chegarem a qualquer lado.
O asfalto da Ecopista está pintado, e a sua cor identifica o concelho em que se insere cada troço: encarnado para Viseu (que é parcialmente feito em ambiente urbano), verde para o concelho de Tondela, e azul para o de Santa Comba Dão. É a Ecopista mais longa do país, e existem planos para a ligar às suas congéneres de Vouzela e do Vouga, naquela que será a maior ecopista da Península Ibérica – uma boa notícia para os amantes da bicicleta e das caminhadas longas.
Com o final da tarde a aproximar-se, foi com alguma relutância que fiz o caminho de regresso ao autocarro que nos levou de volta a Viseu e à “civilização”. Em terra boa apetece sempre ficar mais um dia – ou dois, ou uma semana, um mês… A região de Viseu Dão Lafões tem muitas coisas boas para conhecer, provar e aproveitar, e certamente muitos mais segredos para descobrir.