As jóias discretas de Penalva do Castelo
Parece ser imagem de marca da vila “casar” a tradição com a modernidade, sem que o contraste criado seja aberrante. Um dos orgulhos do município de Penalva do Castelo são os seus produtos endógenos: o vinho Dão (sub-região Castendo); o queijo Serra da Estrela DOP, que é exclusivamente feito com leite de ovelhas das raças Bordaleira da Serra da Estrela ou Churra Mondegueira; e a maçã Bravo de Esmolfe, uma maçã outonal pequena, doce e com um aroma maravilhoso, produzida numa área geográfica bastante limitada. Para homenagear estes produtos típicos foi escolhida uma forma de expressão artística bem actual: a street art. Perto do jardim da Praça do Município e do recinto da feira, o “Mural dos Produtos Endógenos e Tradições do Concelho” celebra os costumes e os produtos agrícolas mais característicos da região. O mural foi concebido por Jaf Graph, um jovem artista já com créditos firmados no panorama português da arte urbana e também um “filho” da região Viseu Dão Lafões (nasceu e vive em Mangualde), e mostra bem como a flexibilidade da linguagem artística moderna consegue tratar com elegância até mesmo os temas mais clássicos.
Mas a jóia maior da coroa de Penalva do Castelo ainda não se tinha mostrado, bem escondida que está atrás de muros de pedra, trepadeiras folhosas e árvores enormes: dá pelo nome de Casa da Ínsua e é ao mesmo tempo hotel, quinta e museu.
Foi a surpresa maior desta viagem. Até à altura, Casa da Ínsua era para mim apenas um nome de vinho vagamente conhecido. Daí o meu espanto quando, depois de percorrer uma alameda refrescada pela sombra de muitas árvores e passar um pórtico em arco, surgiu à minha frente um belo palacete barroco, em alvenaria branca debruada a granito e com uma capela anexa. Foi o início de uma viagem espácio-temporal guiada pelo actual gerente da Casa da Ínsua, Rafael Furão, que nos contou toda a história da casa e da quinta em que ela está inserida.
Outro prazer esperava por mim, mais uma jóia de Penalva do Castelo, esta escondida na pequena aldeia de Sangemil: o forno comunitário. E aqui tenho de fazer duas notas prévias. A primeira é que a tarde ia avançada, e apesar de o almoço ter sido excelente (falarei dele mais adiante), o estômago já reclamava por qualquer coisita que o acalmasse. A segunda é que sou doida por pão, de preferência regional, e melhor ainda se for bem fresco. Podem por isso imaginar o que terá sido entrar num sítio onde não só cheirava a pão acabadinho de fazer, como também tinha mais de uma dúzia de belíssimos pães com um aspecto delicioso (mal cozidos, mesmo como eu gosto) em cima de uma mesa, a pedirem para os devorarmos logo ali. Foi ao mesmo tempo uma alegria e uma tortura, porque tive de me dominar para não os atacar imediatamente, feita selvagem
A visita a Penalva do Castelo ainda teve mais uma paragem, no sítio a que chamam Lages de Sangemil. Numa zona de antigas eiras, onde os aldeãos secavam e tratavam os cereais que cultivavam, um grupo de “palheiras” tem vindo a pouco e pouco a ser recuperado por um casal, e transformado em casinhas para alojamento temporário. O local onde estão situadas é excepcional, com uma vista ampla sobre o vale e as encostas do Dão, onde as vinhas crescem em socalcos ondulantes e o arvoredo se estende sobre a crista dos montes. As casas estão recuperadas de forma admirável (algumas estavam completamente em ruínas), e por todo o lado há pormenores que alegram o ambiente, engraçados e dispostos com bom gosto. Ao sol do final da tarde, com o verde matizando-se de dourado e naquele ambiente de sossego, pareceu-me sem dúvida um lugar ideal para aquelas alturas em que precisamos de desligar do mundo e relaxar.